A Ascensão do Negacionismo no Brasil
O negacionismo científico no Brasil se intensificou a partir de 2018, quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente, e se tornou um dos pilares de sua estratégia política. Durante seu governo, as declarações públicas e as políticas adotadas minaram o respeito à ciência e ao conhecimento técnico, influenciando diretamente o debate público sobre questões cruciais como a saúde, o meio ambiente e a educação.
Esse movimento negacionista não se restringe a um único campo do saber. O Brasil tem assistido, em diversas áreas, uma tentativa de distorção dos fatos científicos para atender a interesses políticos ou ideológicos. Questões como as mudanças climáticas, as vacinas, o uso de medicamentos sem comprovação científica e as teorias da evolução foram sistematicamente atacadas e distorcidas por representantes da direita brasileira, criando um ambiente propício para a desinformação e a polarização.
A Negação das Mudanças Climáticas
Um dos exemplos mais claros de negacionismo científico foi o tratamento dado às mudanças climáticas. O governo Bolsonaro foi amplamente criticado por sua postura em relação ao aquecimento global e à preservação ambiental. O presidente, ao lado de aliados, questionou os dados e estudos científicos que apontam para o impacto das atividades humanas na elevação das temperaturas globais e na aceleração da degradação ambiental. Durante a gestão de Bolsonaro, o Brasil se afastou de compromissos internacionais relacionados à proteção ambiental, como o Acordo de Paris, e incentivou políticas que favoreciam a exploração de recursos naturais em áreas sensíveis, como a Amazônia.
Além disso, o governo promoveu um discurso antiambientalista que descreditava as organizações científicas e as ONGs dedicadas à preservação do meio ambiente. O negacionismo climático ganhou terreno no país, com muitos líderes da direita brasileira adotando um discurso que minimizava os riscos das mudanças climáticas e deslegitimava os estudos sobre o impacto humano no meio ambiente.
A Negação da Ciência em Tempos de Pandemia
Outro ponto crítico do negacionismo científico no Brasil foi a postura adotada durante a pandemia de COVID-19. O governo Bolsonaro, em diversas ocasiões, questionou as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de especialistas brasileiros, como os membros da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e do Instituto Butantan, responsáveis pela pesquisa e desenvolvimento de vacinas e tratamentos contra o coronavírus. O então presidente chegou a minimizar a gravidade da pandemia, comparando-a a uma "gripezinha", e incentivou o uso de medicamentos sem comprovação científica, como a cloroquina e o vermes como tratamentos para a doença.
A postura negacionista levou a uma demora na adoção de medidas de prevenção e ao enfraquecimento de campanhas de vacinação, o que teve consequências trágicas para o Brasil. Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Brasil se tornou um dos países mais afetados pela pandemia, com mais de 700 mil mortes até o fim de 2022, um número elevado em parte devido à falta de uma resposta coordenada e baseada em evidências científicas. A resistência ao uso de vacinas, alimentada pelo negacionismo, contribuiu para o aumento da mortalidade e prolongou a crise sanitária.
O Impacto na Educação e a Ideologização do Ensino
O negacionismo científico também encontrou espaço nas políticas educacionais durante o governo Bolsonaro, com tentativas de alterar currículos escolares e universidades para enfraquecer a formação crítica dos estudantes. O governo promoveu um ataque constante a áreas do conhecimento relacionadas às ciências humanas e sociais, como a história, sociologia, psicologia e educação sexual, além de buscar alterar conteúdos e metodologias de ensino em diversas disciplinas para afastar abordagens científicas e progressistas.
A ideologização da educação foi uma das principais bandeiras da direita brasileira nos últimos anos, e um exemplo disso foi a pressão para que as escolas adotassem uma visão distorcida de temas científicos, como a teoria da evolução de Darwin e o aquecimento global, apresentando-os como teorias contestadas, em vez de verdades científicas consolidadas.
Além disso, houve também um ataque às universidades públicas, que foram rotuladas de "produtoras de ideologia" e "antros de comunismo". Esses ataques resultaram em cortes no orçamento de universidades e programas de pesquisa científica, prejudicando a produção de conhecimento de ponta no Brasil e levando a um aumento do fenômeno do "brain drain", a migração de cientistas e pesquisadores para o exterior em busca de melhores condições de trabalho e financiamento.
O Legado do Negacionismo para o Brasil
O legado do negacionismo científico promovido pela direita brasileira é profundamente negativo para o desenvolvimento do país. A desinformação, a distorção da ciência e o ataque às instituições científicas prejudicam a capacidade do Brasil de enfrentar desafios globais, como as mudanças climáticas, as crises sanitárias e a crescente desigualdade social. Além disso, a perda de confiança na ciência enfraquece a educação pública, que deveria ser um espaço para o fomento ao pensamento crítico, à inovação e ao entendimento de questões globais.
Os dados sobre a taxa de mortalidade pela COVID-19 no Brasil e os resultados educacionais em avaliações internacionais, como o PISA, são apenas alguns exemplos de como o negacionismo científico pode afetar a vida dos brasileiros. Para reverter esse cenário, é fundamental promover uma educação que valorize o pensamento científico e a busca pela verdade, sem cair em disputas ideológicas que colocam em risco o futuro da sociedade.
O Brasil precisa de políticas públicas baseadas em evidências científicas e deve fortalecer a confiança na ciência como um bem comum, essencial para o desenvolvimento sustentável e para a construção de uma sociedade mais justa e informada.
Fontes:
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
- Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz
- Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
- PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos
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